sexta-feira, 12 de abril de 2013

          

              Dependência Sexual – Um problema de nossos dias?



1. Introdução

A dependência sexual nos dias de hoje tem se manifestado nas mais variadas formas, cores e matizes. Todo profissional na área da saúde provavelmente já se defrontou com essa problemática em seu consultório ou clínica de aconselhamento.

Como líderes cristãos, formadores de opinião, não podemos ficar alheios diante do crescimento e das terríveis consequências desse problema dentro das igrejas. Líderes evangélicos da maior projeção, pessoas influentes em suas comunidades, pastores e pastoras tem sido grandemente atingidos por essa situação e, quando caem, levam consigo a família (esposa/marido, filhos) e também suas igrejas sofrem com seus atos.

Minha intenção ao passar esse tema é, primeiramente, de chamar a atenção para a urgente necessidade de tomar medidas práticas no sentido de nos prepararmos melhor, conhecer mais sobre o tema e o que já existe em funcionamento não somente em nosso país como em outros lugares.

Em segundo lugar, é também meu desejo abrir um fórum permanente de discussão sobre o tema através da Internet, por fax, carta, promovendo o intercâmbio de materiais e conhecimentos entre os profissionais.

Em terceiro lugar, ajudar conselheiros, psicólogos, pastores e líderes cristãos na identificação do problema da dependência sexual e as formas de tratamento, não esquecendo o aspecto espiritual que envolve o problema e os recursos que os cristãos têm à sua disposição para tratar eficazmente desse assunto.

2. Definição e diagnóstico

Dependência: em latim adictere – estar preso, escravizado.

A dependência sexual é um distúrbio progressivo que para alguns, nunca vai além da masturbação compulsiva. Para outros, entretanto, pode representar até mesmo atos criminosos (exibicionismo, assédio, estupro). De qualquer maneira, como outros vícios, é um problema que afeta não só o viciado mas também aqueles que o cercam.

A tendência para desenvolver esse tipo de vício pode estar numa anormalidade bioquímica cerebral. Esse fator bioquímico pode nos ajudar a compreender por que pessoas tão inteligentes e competentes acabam se sentindo atraídos por essa dependência. O cérebro do viciado "engana" o resto do corpo, causando reações positivas e sensações agradáveis durante comportamentos que, na realidade, são auto-destrutivos. O efeito é semelhante ao que a bebida exerce sobre o alcoólatra.

Estudos demonstram que 82% dos dependentes de sexo foram abusados de alguma forma na infância. Outra pesquisa indica que 80% dos viciados tem outros casos de dependência na família.

A dependência sexual ainda não é reconhecida como doença mental. Assim, não há critérios oficiais para o diagnóstico.

Por vezes, é difícil determinar se uma pessoa sofre ou não desse tipo de vício. Alguns comportamentos característicos são:- ficar até tarde da noite assistindo TV ou conectado à Internet;- uso de material pornográfico, esconder vídeos e revistas;- isolar-se do cônjuge;- ser controlador durante o sexo e apresentar variações bruscas de humor antes ou depois das relações;- ser exigente quanto ao sexo;- ficar zangado se alguém demonstra preocupação sobre o problema de pornografia;- ausência de intimidade no relacionamento conjugal;- isolar-se de amigos e pessoas "ameaçadoras";- quando em público, parecer preocupado com tudo o que acontece ao seu redor;
- falta de amigos do mesmo sexo.- A severidade da dependência varia de acordo com os comportamentos desenvolvidos e seus efeitos nocivos, que podem incluir:- culpa, remorso e pensamentos suicidas crescentes;- irritabilidade e mudanças de humor, violência;- discussões com familiares e amigos;- problemas financeiros graves;- necessidade de atividade sexual crescente para sentir o efeito desejado (tolerância);
- uso progressivo de tóxicos/álcool.- O quadro de dependência apresenta ainda algumas importantes distorções cognitivas:- pensamento extremista (tudo ou nada, preto ou branco);- generalização (tudo é horrível, ninguém me entende...);- filtros mentais (pessimismo);- desconsideração do positivo (rejeição de coisas boas);- conclusões precipitadas;- exagêro (pensamentos catastróficos) ou minimalização;- raciocínio emocional (dar importação excessiva aos sentimentos);
- atitudes do tipo "eu devo, preciso, tenho que..."- rotular pessoas e situações;- considerar tudo a nível pessoal (mania de perseguição).


O distúrbio pode se manifestar de várias formas:- masturbação compulsiva com fantasias mentais, uso da TV, computador ou outras formas de material pornográfico;- sexo compulsivo com prostitutas ou parceiros desconhecidos;- vários casos extra-conjugais;- frequentar lugares que apresentam shows e sex shops;- exibicionismo e/ou voyeurismo- "acidentalmente" tocar pessoas estranhas de forma sexual;- abuso sexual de crianças;- estupro.

3. Tratamento

Dependentes sexuais normalmente não procuram ajuda por conta própria e as chances de recuperação são maiores quando a família compreende que trata-se de uma doença e contribui no processo de tratamento.

Muitos dos programas utilizados são semelhantes aos que funcionam com drogados e alcoólatras. Mas, ao contrário do caso desses vícios, o dependente sexual não visa a recuperação através da abstinência total, mas sim o fim do comportamento insalubre e compulsivo.

Outro aspecto do tratamento envolve lidar com os sentimentos de culpa, vergonha e depressão ligados à doença.

O tratamento pode ser constituído de vários elementos como:- um programa de recuperação (como os 12 passos dos Alcoólatras Anônimos);- livrar-se de qualquer material pornográfico;-ter a televisão e o computador em áreas comuns da casa e não "escondidos" em quartos fechados.

O processo de tratamento pode ser dividido em três estágios:- identificação do problema através do uso de instrumentos de avaliação, questionamentos e observações;- definição clara dos comportamentos que devem ser evitados;- prevenção de recaídas – identificar e reduzir comportamentos que engatilham o vício.

A jornada de recuperação da dependência pode ser um processo longo e muitas vezes inclui:- desenvolvimento – a pessoa sabe que tem problemas mas não quer se submeter a mudanças. Faz um pouco de terapia ou aconselhamento (sem regularidade ou comprometimento) e muda o tipo de pornografia utilizada como estímulo;

- crise/decisão – a pessoa é confrontada com um ultimato (do cônjuge que ameaça deixá-la, do chefe no trabalho, ser preso);

- choque – sintomas físicos de ficar sem os estímulos, confusão, incapacidade de concentrar-se.

- tristeza – acompanhada de um pouco de negação e tentativas de "negociar". Sentimento de perda;

- reparação 1 – descobre a possibilidade de se sentir feliz. Aprofundamento dos relacionamentos com outros. Assume novas responsabilidades. Começa a aprender como expressar suas necessidades e não apenas encobri-las através do vício;

- reparação 2 – consegue colocar-se no lugar do outro e dar demonstrações mais evidentes de amor e outros sentimentos positivos.

Os tratamentos mais bem sucedidos acontecem quando os casais:- fazem da recuperação uma prioridade;- frequentam programas de apoio;- estão cientes de que a recuperação é uma longa jornada;
- recebem aconselhamento individual;- lêem sobre o assunto;- desejam crescer espiritualmente;- têm respeito e compromisso entre os cônjuges.

4. O co-dependente

O co-dependente pode ser identificado através de comportamentos como:- tentar controlar as atividades e pensamentos sexuais do parceiro viciado;- permitir que o sexo exerça um papel predominante dentro do relacionamento;- sentir mais desconforto do que prazer nas relações;- usar o sexo para tentar consertar o relacionamento;- comparar-se com outros, especialmente no que diz respeito à aparência;- evitar falar com outros sobre comportamentos e sentimentos ligados a sexo;- envolver-se em atividades sexuais com o parceiro mesmo quando estas lhe parecem perturbadoras ou humilhantes;- medo de ser acusado de impotência/frigidez;- negligência de necessidades pessoais, da família e de amigos para poder ir de encontro aos desejos sexuais do parceiro;- fazer o papel de detetive (mexer em objetos pessoais do viciado, procurar saber onde ele vai...) em busca de "pistas" que revelem a dependência.

O co-dependente (cônjuge do viciado) deve estar consciente de que:- a dependência não é sua culpa;- não há nada que ele possa fazer para mudar o comportamento do companheiro;
- vício do cônjuge tem impacto sobre toda a família;- não deve permitir que o vício do outro controle suas vidas;- precisa lidar com a mágoa e a raiva de forma honesta;- não está sozinho. Muitos outros já passaram pelo processo de recuperação e sobreviveram;- não está enlouquecendo (pode procurar ajuda de um conselheiro para lidar com os sentimentos de confusão emocional e dúvidas sobre a própria sanidade mental):

viciado pode se recuperar (essa é uma possibilidade real).


5. Um problema recente?

Através de registros históricos e dados sobre a dependência sexual, pode-se concluir que esse tipo de vício já existe há muito tempo.

Em 1 Samuel 2:22 vemos que os filhos de Eli apresentavam esse tipo de distúrbio e, mais tarde, tiveram de arcar com as pesadas consequências. Através de seu comportamento, podemos supor que a esposa de Potifar também possui esse tipo de vício, o que se reflete nos acontecimentos envolvendo José. Ela o via apenas como um objeto de desejo, um dos sintomas clássicos desse tipo de distúrbio. Sabia também que sua "vítima" era uma pessoa vulnerável e, por fim, não assumiu a responsabilidade por seu comportamento, outro sintoma típico da dependência sexual.

A Bíblia traz ainda um exemplo de restauração de um dependente sexual: o filho pródigo (Lucas 15:11-32).

O filho pródigo gastou toda a sua herança com bebidas e prostitutas. As pressões e consequências de seu comportamento compulsivo fizeram com que ele enxergasse sua condição lastimável (ele teve que perceber por si mesmo). Em seguida, ele confessou o seu pecado a Deus e a uma autoridade humana (o pai). Sem a confissão não pode haver cura. A narrativa mostra que nenhum viciado é imundo demais para ser restaurado por Deus e, finalmente, indica também que há certas consequências do vício que terão que ser encaradas para o resto da vida, mesmo depois da restauração.

Assim, mesmo não sendo um distúrbio desenvolvido na atualidade, a dependência sexual encontra, nos dias de hoje, mais formas do que nunca de ser alimentada, expressa e escondida. É difícil escapar de tudo o que vem sendo oferecido em termos de estímulo sexual. Nossa sociedade tem sido "cultivada" de modo a aceitar as práticas extra-conjugais, sendo que essa imagem pode fragilizar as convicções bíblicas de alguns.

Além das mídias mais tradicionais, a Internet tem contribuído grandemente para a consolidação da dependência entre pessoas dos mais variados backgrounds e posições sociais.

Antes da Internet, entregar-se às tentações da pornografia significava ter que se expor pessoalmente em público para conseguir material pornográfico. Nesse sentido, a Internet facilitou grandemente o acesso que os viciados têm à todo o tipo de material. Eles podem passar horas navegando em segredo por sites que vão do erótico ao criminoso (como, por exemplo, pedofilia).

A princípio, observar imagens e trocar mensagens em chats pode parecer inofensivo, mas esse tipo de comportamento pode rapidamente evoluir. Como no uso de outros instrumentos, a Internet não é nociva em si, como tecnologia. Pode, entretanto, servir de instrumento muito conveniente pois oferece uma comunidade virtual dentro da qual há fantasia e os dependentes não sentem de imediato as consequências de seus comportamentos.

Alguns desenvolvem relacionamentos com pessoas através de chats e e-mails e se recusam a admitir que esse tipo de envolvimento possa ser considerado uma forma de adultério.

Mesmo não sendo um fenômeno nascido em nossos tempos, a dependência sexual pode ser combatida com os mesmos instrumentos que permitem sua propagação. Em alguns países, há uma grande variedade de publicações e grupos de apoio para viciados que estão tentando se libertar. A própria Internet pode ser um meio poderoso de colocar o dependente em contato com profissionais da saúde e outros viciados de modo a receber instrução, apoio e acompanhamento.

Deus deseja que suas criaturas tenham vidas plenas, desenvolvendo o prazer sexual dentro de relacionamentos comprometidos. Deseja também que elas estejam livres das amarras e tristezas do comportamento compulsivo e, para trazer essa libertação, em seu poder infinito, ele usa dos mais variados meios.

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